Uma tarde de temporal


Uma tarde de temporal –

de Carlos Leite Ribeiro (Outubro 2004)

 

Ontem foi um dia de muito vento e chuva aqui na Marinha Grande. Ninguém podia andar na rua, pois podíamos ser apanhados por alguma telha, chapa de cobertura, parte de alguma chaminé, alguma árvore ou ramo, até ser atropelado por algum contentor de lixo que rodopiavam por todo o lado.
Mas o pior ainda foi a falta de energia elétrica. Logicamente fiquei sem internet, televisão, rádio e telefone fixo.
Sem nada para fazer e sem poder sair de casa, resolvi ir para a cama tentar fazer um soninho, e, quando estava mesmo a pegar no sono, o telemóvel (celular) tocou. Era a minha querida e velha amiga Mariazinha d’O, que quando sai ou quando está no trabalho, usa normalmente um chapéu tipo tirolês com peninha e tudo.
Esta minha querida amiga, é consultora de um grande supermercado da região, e entre outros temas, falámos de certas cenas passadas no seu local de trabalho. Entre outras, memorizei algumas:
Certo dia ao passar pela secção de roupa feminina, encontrou um homem a experimentar soutiens. Como boa profissional abeirou-se do individuo e perguntou-lhe:
- Precisa de ajuda? – Perguntou-lhe delicadamente.
- Ai querida, vê se este soutien me fica bem? Respondeu-lhe o tal “homem”.
- Esse número é muito grande para você. Devia de ter escolhido implantes maiores…
- Tem razão mas o médico aconselhou-me estes que ficam bem com a minha figura…
Rebolando-se todo, afastou-se como que ofendido com a minha observação.
Ai Carlos, com esta “concorrência” tão desleal, as mulheres são altamente prejudicadas!
Em outro dia, a vizinha Acácia perguntou-me se havia marmelada caseira. Respondi-lhe que de momento o supermercado não tinha dessa marmelada. Muito chateada, respondeu-me:
- É que as minhas filhas só gostam de marmelada caseira.
Vê lá Carlos, que as filhas dela até são capazes de fazer “marmelada” encostadas a candeeiros de iluminação pública!
Eu não acredito em bruxas, mas que acontece por vezes muito estranhas, é bem certo.
Na semana passada, o pessoal da limpeza encontrou um chouriço que tinha caído das calcinhas de uma mulher. Como natural, algumas calcinhas que estavam juntas já estavam também com nódoas da gordura do chouriço . Meteram o dito cujo e as calcinhas já manchadas num saco de plástico para deitar tudo no lixo. Quando estavam a fechar o saco, as outras (calcinhas) que não estavam sujas, saltaram todas para dentro do saco… Se isto não é macumba, não sei o que seja.
Ainda mais, na semana passada, deu-se algo parecido. Quando de manhã abrimos o supermercado, com grande espanto nosso, vimos espalhados pelo chão cuecas de homem misturadas com collants de senhoras, sujas. Mas não vou falar mais destas coisas pois fico toda arrepiada. Bem sabes como sou nervosa…
Mas a melhor, foi esta. A tua vizinha Picolina que tem muitas dificuldades financeiras, uma vez agarrou um ovo e escondeu-o dentro das calcinhas. Ou introduziu demais ou o ovo pensou ter encontrado suas origens e foi subindo. Não interessa para ocaso. Quando a Picolina estava na fila para o pagamento, ouviu-se um ruído, digamos estranho. Todos começaram a olhar uns para os outros tentando perceber de onde tinha vinda tal ruído. Mas ficaram muito enojados quando o ovo começou a escorrer pelas pernas dela. Muito atrapalhada e deixando as compras em cima do balcão, começou a correr direito à saída gritando:
- Estou com o período, estou com o período…

Entretanto, a bateria do telemóvel esgotou e não pudemos falar mais.
Cá fora, o vento continuava a fazer-se ouvir assim como a chuva fazia barulhos ao bater nas persianas das janelas.
Tapando-me melhor, adormeci profundamente.
Quando acordei, fiquei na dúvida se teria sido a Mariazinha d’O a telefonar-me ou teria sido um sonho…

(*) Baralice. Era uma mulher formidável. Do alto dos seus 1,44m, destacava-se a sua enorme cabeça só superada pela sua enormíssima barriga que como se diz por cá, era autênticos pneus de camião (caminhão); cabelo tipo “pelo de rato” já com enormes peladas; olhos de coruja; sorriso cínico; pernas cheias de varizes. Era uma autêntica perfeição, ou, feia como trovões. Por cá, tentou várias conquistas de homens ricos que depressa a “largavam”. Pela Internet, conheceu um homem e logo pensou em “dar-lhe o golpe do baú”, para mais ele dizia-lhe que tinha grande carisma, um belo emprego de tirar penas a galinhas, além de uma bela casa. O pior era que o tal homem vivia no Himalaia, e embora o seu “amor” por ela fosse enorme, não lhe pagava a passagem para ela ir ter com ele. Mas a Baralice não era mulher que desistisse dos seus planos, e assim foi juntado dinheiro e um belo dia apanhou um avião e foi ter com o seu grande “amor”. Quando chegou e ele levou-a para sua casa, em vez de um palacete ofereceu-lhe uma caverna feita de gelo. Já desconfiada daquela personagem estranha e mentirosa (ao mais alto nível) foi sabendo pequenas coisas do seu passado e chegou à conclusão que tinha (por azar dela)  ido ter com o Abominável Homem das Neves, o qual tinha uma família muito estranha (no mínimo). Algum tempo depois, o tal Abominável Homem das Neves que mal ganhava para comer embora depenasse milhares de galinhas por dia. Certo dia encontrou (também pela Internet) uma “pirua” noutro continente e pensou logo viver à sua custa. E lá foi ele fazer a “exploração” do seu novo “amor”. Pelo menos comer, roupa lavada e dinheiro para gastos tinha. E dos felizes não reza a história…
A Baralice regressou ao seu país, muito desiludida e segundo consta anda a ver se o ToKandar se apaixona por ela embora a sua madrasta Margarida seja contra esse “amor”.
Talvez a história continue, falando desse grande “amor” Baralice/TóKandar…